sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Episodio 2 - Agosto 2010, a aprendizagem em viticultura e a questão do local e dos equipamentos


Depois de alguma interrupção, retomo o relato da minha aventura por terras do Dão. Voltamos por isso um pouco atras no tempo...

No inicio de Agosto 2010, terminado o meu contrato com o meu anterior empregador, pude enfim partir para Portugal de férias por 2 meses. Não sei se se pode chamar a isto férias, porque levantava-me de manhã cedinho e passava os dias a trabalhar, mas felizmente sempre com grande prazer.

Cheguei então a Portugal e comecei a trabalhar então nas vinhas do Alvaro Castro, na companhia de umas senhoras de idade que la andavam a realizar os trabalhos de monda, arrancar folha e cortar rebentos ladrões. 

Foi instrutivo e divertido, porque havia sempre boa disposição com as senhoras a cantarem canções tipicas enquanto trabalhavamos. 



Elas ficavam todas admiradas como eu tinha ali parado, pois que é que deu a um engenheiro da cidade para ali andar a trabalhar no campo? Ainda por cima com o calor que se sentia logo de manhã... Foram momentos de familiarização com as vinhas, os solos, as castas, momentos que apesar de trabalhosos, disfrutei plenamente.

Apenas la ia de manhã, das 8h até as 13h. A tarde aproveitava para me dedicar mais ao meu projecto, pois ainda tinha muito para resolver a começar pelo local. Corri varios produtores da zona, mas ninguem se mostrou disponivel para me acolher na sua adega. Confesso que fiquei então um pouco desesperado a ver as coisas a correr para tras...

Tive então de encontrar uma solução. 

O que apareceu foi a possibilidade de utilisar parte da loja da casa do meu sogro. A loja é fresca, pois as paredes são de granito e com para ai uns 30 ou 40 cm de espessura, o que permite um bom isolamento termico. 

A loja esta divida em 3 partes, ocupei uma dessas três, a que tinha azulejo no solo, o que permite limpar com mais facilidade. 

Não é o ideal mas pelo menos deu para desenrascar. O meus sogros aceitaram, mas claro tem de ser uma solução provisoria.

O local não foi feito para isso, é pequeno e não tem condições. Por exemplo não tem agua de furo, so agua da rede. Ora aprendi com o Alvaro, que um dos vectores do TCA no vinho é o cloro, elemento que se encontra na agua da rede por razões sanitarias. 
Isso quer dizer que para lavar as barricas ou os equipamentos tem de se evitar a agua da rede e utilizar a agua de furo. Isto é problematico porque para se fazer vinho é preciso muita higiene, ou seja muita agua... Na altura da vinificação la me fui safando indo buscar agua ao furo da avo da minha namorada, que ficava a uns 200m de casa. Não imaginam a quantidades de garrafões que la fui encher e carregar...

Foi tambem em Agosto que chegaram as barricas que tinha encomendado na DAMY em Meursault. Comprei 5 barricas usadas, três de 2008 e duas de 2007. A DAMY recupera barricas usadas nos seus clientes e trata-as depois de maneira a vendê-las em segunda mão. 
Apesar de ser uma solução custosa, preferi fazer assim em vez de procurar um produtor que me vendesse directamente barricas que ja não quisesse. Porque não é facil de encontrar e sobretudo porque acho que é mais seguro de um ponto de vista sanitario. Não va uma barrica contaminada alterar o vinho e deitar tudo abaixo.

Desde o inicio pensei utilizar barricas usadas em vez de novas. Alem de ser muito mais economico, a minha ideia é de fazer testes, testar parcelas diferentes, sentir as diferenças e as expressões de cada uma.

Para isso a barrica usada parece-me mais adequada, pois não marca tanto o vinho como uma nova, permitindo gozar dos pontos positivos da utilização da barrica (micro-oxigenação lenta, polimento...), sem mascarar o terroir de origem.


Trabalhar com barricas é muito mais complicado do que pensava, ja la irei num proximo post. 

Nesta fase de Agosto a principal dificuldade que tive foi com o transporte. Por razões de facilidade confiei o transporte, de Meursault até casa do meu sogro em Santa Marinha (Seia), a DAMY. As barricas chegaram la uma semana atrasadas em relação ao combinado. Felizmente chegaram muito antes da data de utilização, mas essa foi complicada, porque por vezes não se sabia onde andavam. 
Retroactivamente soube que passaram por uma rede de transportes com varios hubs no caminho. Passaram assim por França, Barcelona, Madrid, Porto, Coimbra, Guarda e finalemente la chegaram. Muitas horas perdidas a espera, muitos telefonemas e alguma preocupação... Felizmente chegaram em muito bom estado.

Passei tambem muito tempo a procura de equipamentos diversos, pois não tinha nada. Parti do 0. 

Caixas de vindimas, refractometro, garrafões para poder atestar as barricas, vazilhas diversas, etc... 

Aos poucos ia sempre aparecendo uma necessidade, muitos km fiz para ir aos fornecedores locais de material de viticultura... 





Como não tinha nem lagar, nem cuba de fermentação comprei duas dornas de 1000L em plastico alimentar. Depois ainda me emprestaram mais duas, porque cheguei a ter 4 vinhos a fermentar ao mesmo tempo...


 Optei por esta solução porque queria trabalhar como em lagar a pisa a pé e porque depois de contactar fornecedores e de obter preços percebi que lagares em inox ou cubas de fermentação em inox estavam fora do alcance do meu reduzido orçamento...

Para tudo o que era recalques fui ter com o carpinteiro da aldeia, que me fez duas “mocas” em carvalho. 


O cheirinho que deitavam quando dava feitoria ou quando depois as lavava, hum!!! era delicioso!

Agosto 2010, tambem foi uma fase de investigação, de procura de vinhas a experimentar, mas isso contarei no proximo episodio...

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